CIA DO AR

Deixe-me dizer para você, com todos os erres e efes, porque eu acabei por criar os multilivros.


Quando finalizava a masterização do Flores (2010), começou a me bater uma paúra, como sempre que chega a hora de eu ter de fazer aquilo que não sei: divulgar o meu trabalho. Sempre me enrolo bastante nisso. Posso dizer que sei produzir, que corro atrás do melhor para o resultado final dos projetos, busco sempre os melhores profissionais, dou uma sorte danada no relacionamento com eles, não tenho pressa para finalizar o produto, sei deixá-lo amadurecer suficientemente etc.


Mas, catso, quando chega a hora de divulgar, simplesmente fudeu! Porque eu não sei fazer isso, raios! Raios duplos!... Principalmente no Rio. Algo me escapa.



Daí, pensei, pow tinha que bolar uma parada diferente que pudesse chamar atenção para o meu trabalho sem necessariamente ter de desfilar nu, aos 53 anos de idade, numa redação de jornal para que notassem a minha pequena (9cm) e singela presença... (Risos)



E outra é que esse transtorno de personalidade (artística) múltipla é um negócio difícil de administrar quando não se é nem nunca foi bom administrador: poesia para um lado, canções para o outro, prosa em cima, ensaios e artigos embaixo, teatro à direita, novelas à esquerda... Mél Déls!... (Como diria o arranjador vocal Pablo Lemos) Não é fácil...



Eu já tinha dois videoclipes prontos, baseados em canções do repertório do Flores... Aquilo olhou para mim, eu olhei para aquilo e, no dia 4 de janeiro de 2011, alguns poucos dias antes que as águas se despejassem, contínuas e mortais, por sete horas seguidas sobre toda a Região Serrana do Rio – minha casa em Friburgo, inclusive –, ocorreu-me que devia buscar a fusão de tudo o que fazia em busca mesmo da minha unidade interior, de uma reunião harmoniosa dos meus, digamos, quase-heterônimos: o poeta, o compositor, o cantor, o escritor, o produtor... caralho, no meu peito vagueiam mais de mil corações...



E assim me ocorreu propor ao Ilson Junior, meu parceiro nos vídeos, artista plástico, ilustrador, animador, que transformássemos aqueles dois clipes em livros. Talvez isso lançasse luz sobre nossos trabalhos em um mar de faróis potentes a iluminar milhões de outras coisas significativas e importantes, pois precisamos todos do reconhecimento do público, da mídia e dos apoiadores financeiros para prosseguirmos, artística e economicamente, em nossa jornada rumo ao longo nada, que vem a ser o nosso quase tudo...



É óbvio. Esse silêncio ensurdecedor ao derredor de nossos ouvidos é um obstáculo que precisamos superar, sem descair no rancor e no ressentimento, afinal, ninguém tem a obrigação de perceber e compreender o nosso trabalho, anterior a nós mesmos, e sabemos bem (todos que militamos nas fronteiras da arte, território entre o insano e o sublime) como é difícil tudo isso de equilibrar-se no fio da navalha, pisando em ovos (muita vez, os nossos!) para ocupar o justo intervalo entre a divulgação da obra e o cumprimento de suas promessas artísticas, é uma lenha, isso... que assa a nossa batata...



Junior e eu, obsessivos, compulsivos e possessivos (no sentido de possessos mesmo), começamos, então, a trabalhar, silenciosa e persistentemente nesse projeto, em meio à lama de toda a cidade e à situação um tanto quanto pós-apocalíptica de filme americano que nos faziam sentir aquelas ruas com suas mãos reviradas, caminhos interrompidos por quedas de barrancos, trechos de escuridão tenebrosa em pleno centro e gente de máscara e botas altas de borracha vagando pelas calçadas em busca de água e comida escassas.



Para se ter uma ideia, quando deu maio, o projeto já era um pedido de patente no INPI e quando, se não me engano, fechou agosto ou setembro, um mês ou dois depois do show de lançamento do Flores, nós já tínhamos as duas versões gráficas dos videoclipes. Restava elaborar a parte audiovisual complementar do produto, propriamente o menu do DVD que integra a publicação transmídia, resolver detalhes gerais de formatação e buscar, ai Mél Déls, apoio para a empreitada.



Começava ali, então, a trabalhar mais uma vez no que não sei: divulgar, agora, os multilivros! Kkkkkkkkkkkkk!!!!!



Quando é que isso vai acabar, Dio Santo?! (Glup!)



Ar.



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